Sábado de manhã bem cedinho acordamos com o barulho da chuva e um ar fresco que parecia primavera. Nosso encontro estava marcado para às 6h na antiga Estação Mogiana. E lá, pontual, estava o nosso grupo de amigos pronto para embarcar no "trem" rumo a Mococa, onde nos esperavam o João e a Renata da Fazenda Santo Antônio da Agua Limpa para nos mostrarem o "livro mágico".
Estamos falando do livro da Natureza, um livro que é diferente em cada lugar do planeta, bioma e território em que nos encontramos. Esse livro deve ser folheado com muito cuidado, muita atenção e capacidade de observação, pois cada página nos conta os segredos da natureza e dos seres que nela vivem. Um livro que é muito saboroso de ler e que nos envolve plenamente a cada dia que passa.
Com essas palavras o João nos acolheu na casa grande do hotel fazenda antes de conhecermos a propriedade da família Pereira Lima, produtores de café desde 1822.
Renata serviu um delicioso e perfumado bolo de fubá com o famoso cafézinho da fazenda. Um café pouco tostado, moido mais grosso e de manejo agroflorestal que João exporta para o Japão.
No lugar do cafezal convencional que dominou a propriedade até a década de 1990, encontra-se uma floresta secundária com grande diversidade de fauna e flora que criam um ambiente propício para o desenvolvimento de plantas de café sombreado, árvores frutíferas e para o habitat de animais silvestres que convivem em harmonia com criação de bovinos, equinos, suinos e ovinos.
Durante todo o passeio estivemos em companhia desses animais que vivem livres e que também são os principais parceiros de João no trabalho de reflorestamento. São eles os protagonistas naturais do plantio de sementes de árvores por toda a propriedade. Nem podíamos chegar perto das goiabeiras que logo a dona porca com seus filhotes se aproximava pedindo uma deliciosa degustação!
De volta à casa grande, Renata nos esperava com um aperitivo delicioso: pão torrado com conserva de jaca verde, uma verdadeira iguaria da família, sucos de acerola e goiaba.
Uma mesa colorida nos aguardava para o almoço feito com produtos fresquinhos da horta e da agrofloresta: arroz, feijão, abóbora, costelinha de porco, chutney de manga, ensopado de picanha, refogado de ortiga e uma salada de plantas espontâneas que a nossa amiga Neide Rigo Come-se teria adorado: ora-pro-nobis, beldroega, serralha, ortiga, fazendeiro, pau d'alho, flor de hibiscus.
E para completar a cheirosa refeição...os doces!! goiabada com queijo fresco, manjar de jabuticaba e brigadeiro com flor de lavanda.
Após um breve descanso, fizemos mais uma caminhada pela fazenda e tivemos uma oficina de preparo da jaca verde com o João que nos mostrou todas as etapas:
Cozinhamos as jacas inteiras e com a casca em um grande tacho de cobre. Colocamos grandes pedras que ajudam a irradiar calor por duas ou três horas, dependendo do tamanho da jaca. Retiramos as jacas da água deixando-as descansar por mais algumas horas. Em seguida, partimos as jacas, retiramos a polpa e aproveitamos tudinho, com exceção da casca: a parte externa tem uma textura semelhante à alcachofra, a do meio lembra palmito e o miolo tem consistência de mandioca cozida. O sabor e a textura das sementes remetem ao pinhão cozido.
É preciso colocar a polpa no azeite ou no óleo por 30/40 dias para perder os gases e, por último, conservar tudo em potes de vidro para o preparo de receitas criativas.
por Fulvio Iermano