...expressão local da filosofia Slow Food

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Sementes Crioulas em Barra do Turvo (SP)

por Tatiana da Silva Ferreira*

Nos dias 11 e 12 de dezembro de 2010 aconteceu em Barra do Turvo/SP o V Encontro de Agroecologia e Educação Popular do Vale do Ribeira em parceria com a Cooperafloresta de Barra do Turvo (cooperativa de pequenos produtores agroflorestais da cidade). O encontro teve como foco a Oficina de Manejo, Beneficiameno e Reprodução de sementes crioulas ministrada pelo casal frances Yanick e Christine Loubet, dois pequenos produtores que realizam um maravilhoso trabalho de manutenção e conservação da variabilidade genética de semente crioula, além da produção de diversas espécies de verduras e legumes que comercializam, ambos em processo totalmente orgânico.


Yanick Loubet é agronomo e há anos - juntamente com a sua familia em sua pequena propriedade na França - trabalha em parceria com a Fundação Kokopelli (banco internacional de sementes crioulas que possui cerca de 3.500 espécies - http://www.kokopelli.asso.fr/ - produzindo e perpetuando sementes crioulas de diversas partes do mundo, além de disseminar conhecimento e realizar trocas entre produtores.




Christine Loubet, além de auxiliar na produção de alimentos da propriedade, realiza um trabalho de educação ambiental em escolas locais para resgatar conhecimentos e valores tradicionais e assim despertar o interesse pelo alimento e consequentemente pelo bem tratar a natureza.

O casal esteve pela segunda vez admnistrando Curso de Manejo dessas sementes ancestrais aos agricultores na Colombia, e se ofereceram para realizar uma extensão para brasileiros. Desde então se iniciou uma articulação em nível nacional para se definir o roteiro que percorreriam durante o mês de dezembro em territorio brasileiro - sementescrioulas@yahoogrupos.com.br. Foram definidos Belo Horizonte-MG (4 e 5/12), Barra do Turvo-SP (11 e 12/12) e Curitiba-PR (14 e 15/12).

O curso teve uma proposta muito flexivel e variava de acordo com as demandas de cada região, mas tendo como norteadores temas como variabilidades e manutenção de espécies, produção de sementes, seleção sem alteração de variabilidades, sementes hibridas, transgênicos, clones e proteção do solos, educação ambiental, agroecologia e segurança alimentar.




O encontro terminou com uma doação de sementes crioulas feita pelo casal frances para os participantes, mas com uma condição: eles deveriam se comprometer a ser multiplicadores de conhecimento e mais que tudo guardiões da variabilidade das sementes crioulas.


* Batatais esteve presente no encontro, representada por dois biólogos locais, sócios do Convivium Campo Lindo - Batatais: o professor Fabio Ferreira Picinato e a assessora técnica da Secretaria do Meio Ambiente de Batatais, Tatiana da Silva Ferreira.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

"Vegetariano em dias úteis"

por Paula Populin*

Versão em português da breve palestra de Graham Hill, fundador do site www.treehugger.com, no qual ele aborda o dilema entre ser vegetariano ou carnívoro.
Legendas em português disponíveis no link: http://www.ted.com/talks/lang/eng/grahamhillweekdayvegetarian.htm .
Há cerca de um ano, eu me perguntei: "Sabendo o que eu sei, por que eu ainda não me tornei vegetariano?". Afinal, eu sou um cara sustentável. Sou filho de pais hippies que moravam em uma cabana de madeira. Eu fundei o site Treehugger (abraçador de árvores), que prega a vida sustentável. Eu me importo com essas coisas. Sei que comer um mero hamburguer por dia pode aumentar o risco de morte em 30%. Isso sem falar na crueldade. É sabido que 10 bilhões de animais destinados ao consumo humano, são criados em fazenda industriais que nós, hipocritamente, não consideraríamos nem para nossos cães, gatos ou outros animais de estimação. Na esfera ambiental, a carne causa mais emissões de carbono que todos os meios de transportes juntos: carros, trens, aviões, ônibus, barcos, todos eles! E a produção de carne bovina utiliza 100 vezes mais água do que a maioria dos vegetais.

Também sei que não estou sozinho nisso. Nossa sociedade consome atualmente quase duas vezes mais carne do que na década de 50. Observamos então que o que antes era o acompanhamento da refeição, a tal "mistura", tão especial e aguardada, se tornou o prato principal. Devemos convir que, qualquer um desses argumentos por si só já seria suficiente para eu ter me tornado um vegetariano. Mas não. Antes que pudesse perceber, lá estava eu de novo, me fartando com um belo e generoso bife.
Então por que eu adiava a minha decisão? Nesse momento percebi que a solução para o meu dilema se apresentava de forma binária: ou você é carnívoro ou é vegetariano, sem meio termo. Acho que eu não estava preparado pra isso. Imagine seu último hamburguer...Não! Havia uma claro conflito entre meu bom senso e minhas papilas gustativas, fazendo com que eu sempre deixasse a tal decisão pra depois. Obviamente, o "depois" nunca chegava...

Como as duas primeiras soluções não me agradavam, imaginei então que poderia haver uma terceira. E havia! Coloquei-a em prática há aproximadamente um ano e tem sido genial. Chama-se "vegetariano em dias úteis" (weekday veg). Acho que o nome diz tudo. Não se come nada que tenha focinho de segunda a sexta-feira. Aos finais de semana, a escolha é sua. Simples assim. Mas se você quiser levar a experiência a um nível ainda mais avançado, lembre-se: os maiores vilões em termos de danos ambientais e à saúde são carnes processadas/industrializadas. Então por que não trocar essa fonte de proteína animal, por um belo peixe criado em condições sustentáveis? É uma proposta fácil de implementar e simples de executar. Tudo bem se não seguirmos o programa totalmente a risca e tivermos um lapso uma vez ou outra. Afinal, deixar de comer carne cinco dias por semana, já é cortar seu consumo em 70%!

Por isso, façam o seguinte questionamento: por sua saúde, pelo seu bolso, pelo meio ambiente, pelos animais, por que não tentar e dar uma chance à ideia de se tornar um "vegetariano em dias úteis"? Afinal de contas, se TODOS nós consumirmos metade da carne que comemos, significaria que metade do mundo seria vegetariano.


Espero que esse breve testemunho possa inspirar alguns. Comigo fumcionou!
Lembremos que SER ÉTICO é reconhecer que cada uma de nossas ações têm infinitos desdobramentos no mundo que nos cerca. Assim, seria muita ingenuidade/egoismo acreditar que o meu estilo de vida não causaria impacto na vida do todo.


* Paula Populin è professora e gastrônoma pela Universidade Anhembi-Morumbi e Institut Paul Bocuse (Lyon - França).

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

FOLIA DE REIS ABENÇOA OS JACARATIÁS

É dia de reis e a folia já começou trazendo suas tradições, versos, danças e ... muitos sabores!


Em companhia dos amigos foliões Leandro, Tereza e Edgar seguimos para Santo Antonio da Alegria em busca de saberes e sabores do nosso território. Fizemos novos amigos e conhecemos uma verdadeira iguaria gastronômica: o Jacaratiá (Jacaratiá spinosa, árvore da família Caricaceae).

Nossa primeira parada foi no bairro Congonhal onde fomos atraídos pelo aroma dos doces (doce de leite, mamão, cidra, figo, pêssego e jacaratiá) e recebidos entre a curiosidade e a disponibilidade dos calorosos festeiros.

Aqui conhecemos o senhor Esolino Caetano da Silva que juntamente com a cunhada Maria do Carmo preparavam, em um grande tacho de ferro, a carne na "fornalha". Foi ele quem nos falou sobre a história do doce de jacaratiá, o aproveitamento do caule dessa árvore nativa e como a antiga receita passou de geração em geração reunindo a familia no dia de Santos Reis.



O sr. Esolino contou que no seu tempo de menino haviam muitas árvores de jacaratiá na região e que devido a extração do tronco para o preparo do doce, infelizmente, essa espécie estava quase desaparecendo. Assim, ele decidiu fazer um imenso jardim de jacaratiás onde nos levou e com muito orgulho apresentou essa árvore irmã do mamoeiro.
Atualmente a comunidade utiliza somente uma árvore, de minimo cinco anos, para a extração do precioso miolo em ocasião da Folia, pois um caule rende 400 litros de doce.



Nossa visita não parou por aqui e um encontro inesperado nos levou até o sitio da dona Amélia Francisca, uma mistura de gentileza, simplicidade e doçura. Nosso cicerone foi João Batista, fundador, com o irmão gêmeo Zé Carlos, da Companhia de Santos Reis "Geminhos". Chegamos no momento em que a companhia entoava os cânticos anunciando o nascimento do menino Jesus e pedindo proteção para todos.

foto - Leandro Siena

Na varanda colorida de flores e com uma vista de encher os olhos, uma farta refeição preparada com devoção nos deleitou com os sabores da roça.

Não resistimos ao verde exuberante do sítio e fomos passear com a Paula, nora de dona Amélia, a qual mostrou a biodiversidade do local onde se destacavam as figueiras, as preferidas de dona Amélia no preparo de sua especialidade: o doce de figo em calda.

Com o coração sereno e sob uma chuva de verão nos despedimos de nossos anfitriões que com alegria e fé continuaram os festejos de Santos Reis.


Para conhecer a utilização do jacaratiá na culinária e a valorização e preservação dessa árvore nativa consultar a tese de mestrado de Evanilda Teresinha P. Prospero: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/11/11141/tde-20102010-140901/en.php