...expressão local da filosofia Slow Food

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Antonio Munari Bendassoli, o primeiro agricultor familiar do assentamento Nossa Terra de Batatais que participou ao PNAE







por Fulvio Iermano



Senhor Antonio, quantos anos o senhor tem?
Tenho sessenta anos.
Desde quando o senhor está aqui no assentamento Nossa Terra?
Olha, aqui no assentamento há quase quatro anos, porque nos recebemos o documento de posse em setembro de 2008, dia 5 de setembro de 2008. Mas a gente já estava na área plantando, a gente começou no mês de abril.
Antes do assentamento, o senhor já era agricultor?
Já. Meu pai sempre mexeu com isso, eu sempre estive junto com ele, da adolescência.
Quem trabalha aqui junto com o senhor?
Só eu e meu pai. No começo tinha participação do Marcio, meu irmão. Depois tivemos umas dificuldades para vender, então a renda na era compatível para três famílias. Então ele resolveu deixar. Ficamos somente eu e meu pai.
Porque o senhor é agricultor?
Meu pai criou a gente assim, na roça, então eu acho que tive o dom, de gostar, de plantar, de criar, de cuidar, isso aí está no sangue, está na alma.

Que tipo de produto que o senhor já cultivou?
A prioridade sempre foi hortaliças. Verdura de folha em geral. Mas a gente sempre trabalhou com legumes também: mandioca, quiabo, abobrinha, tomate, vagem, jiló, todos estes tipo de legume a gente sempre tratou.
E agora estão produzindo tudo isso, hortaliças de folha e legumes?
O bom é sempre manter esta variedade. Plantamos muita mandioca, repolho, brócolis, couve flor, beterraba, cenoura. Procuramos ter esta variedade.
Temperos também?
Sim, coentro, cheiro verde, salsinha e cebolinha.

Para quem o senhor vende seus produtos?
Primeiro a gente começou com a feira do produtor, no domingo no bairro Pupim. Esta era nossa prioridade. E a gente continua vendendo na feira. Tem sido bom para quem compra como pára nos.
A feira é formada somente por pequenos produtores o também por atravessadores?
No começo era para ser somente uma feira de pequenos produtores. Mas com o passar do tempo, com a necessidade de incluir alguns produtos que a feira não tinha e os produtores nem produziam, algum produtor começou a comprar fora e a revender na feira. Então agora não temos somente produtores, mas também atravessadores.
Quantos dos trinta produtores do assentamento participam na feira?
No começo éramos seis, agora ficamos somente em três.
O senhor acha que a feira vai continuar?
Bom, a dificuldade é que acontece de domingo. Tem gente que reclama porque a semana inteira trabalha, levanta cedo ou tem produtos para entregar no Ceasa de segunda feira e chega ao domingo e quer aquele prazer de aproveitar um pouquinho mais da cama, quer descansar. Mas, apesar disso, a gente não quer deixar de jeito nenhum a feira morrer.

Que técnica de manejo do solo que o senhor utiliza para controle de insetos, larvas, cupins, pulgões, lagartas?
A gente tem feito o máximo de esforço para não utilizar agrotóxico. Há pouco tempo teve um curso de olericultura orgânica através do SEBRAE e do sindicato patronal. Hoje têm aparecido muitos produtos orgânicos, organomineral com que a gente tem aprendido a trabalhar. Eu mesmo estou comprando os produtos de dois revendedores e os resultados são muitos bons.
O senhor pode me dizer os nomes destes produtos?
Sim, o primeiro se chama Super Marco, seria calda bordalesa, outro não lembro o nome, tem que olhar no rotulo, mas trata-se de produto organo-mineral. Estes produtos têm ajudado muito com os nematóides, que atacam a raiz da planta. Apesar disso, até agora felizmente não tivemos uma ataque de pragas muito forte.
Por quê?
Eu acho porque não temos uma terra muito explorada e também porque nos fazemos uma rotatividade dos plantios na horta inteirinha. Quando plantamos uns produtos procuramos replantar-los sempre num lugar diferente, nunca no mesmo lugar. Principalmente alface, tomate, são produtos que mais cobram. Se você replantar sempre no mesmo lugar, você vai ter dificuldade para colher.
Alem do senhor, os outros produtores utilizam técnicas de agricultura orgânica ou se servem de agrotóxicos?
Todos nós estamos pensando em abandonar os venenos químicos, porque alem de ser muito caros, prejudicam nossa saúde
O senhor acha interessante promover outros cursos de sensibilização e capacitação sobre técnicas e práticas de agricultura agroecologica?
Olha, já tivemos outro curso onde outros produtores participaram. Eu particularmente se tiver outros cursos sobre este tema, estou interessado. Eu gostei demais de aprender, vou gostar de aprender ainda mais, isso para mim é muito bom. Alem disso é muito importante a troca do conhecimento entre nós produtores. Eu acredito muito no companheirismo, compartilhar com os outros e divulgar para os companheiros as oportunidades que surgem para nós.

Neste ano o senhor começou a participar ao PNAE - programa nacional de alimentação escolar. Como está encaminhado?
Olha, a gente brinca assim:“ foi melhor do que encomenda”. Porque a época que o programa apareceu é uma época que tem muita produção, muita oferta, todos os produtores tem bastante verdura, de maio a setembro, período da seca. Então foi uma oportunidade para se desfazer da produção, a um preço muito mais bem pago. É um sistema de venda prático. A gente chega aqui na horta, colhe, lava, não precisa de embalagem, de amassar as verduras. Outra coisa muito importante é o destino dos produtos. Não é o supermercado ou o varejão, onde se eles não venderem, eles te devolvem. Eles falam por consignação: “ se eu vender te pago, aquilo que eu não vender te devolvo”. Então este programa ajudou demais, tanto eu como os outros que participaram, estão com medo de ficar fora.
O senhor foi o primeiro do assentamento que participou?
Fomos três. Agora esta renovação do programa foi por via associação, não foi mais individual. Desta forma entraram no programa mais cinco produtores. Então somos oito produtores.
Quais produtos o senhor vendeu para cozinha piloto?
Eu vendi somente o que eu produzia: alface, almeirão, escarola, rúcula, salsa, cebolinha, brócolis, repolho, beterraba, espinafre, mandioca. No total foram onze itens que eu forneci. A responsável técnica do PNAE tentou fazer o pedido de acordo com que eu tinha bastante. Para mim foi uma beleza. Ela me passava o cronograma e eu entregava de combi primeiro uma quantia na cozinha piloto e depois direto nas creches e nas escolas.
A cozinha piloto pediu para associação alguns produtos que vocês ainda não produzem?
Então, eu sempre falo para os companheiros que temos que tentar produzir tudo o que a cozinha piloto precisa. Eu planto um produto, um companheiro planta outro, assim é bom para todo mundo. Os trinta assentados estão bem motivados para entrar no programa. Conseguimos a força, agora somente falta resolver a problemática da água para uso agrícola, assim podemos incrementar nossa produção e começar a fornecer fruta também.
Até agora somente pontos a favor. O senhor acha que tem alguma coisa que pode ser melhorada neste programa de alimentação escolar?
Olha..a gente nunca teve uma organização de venda tão perfeita, então não tenho uma expectativa melhor que esta. Dando continuidade no que está, já está bom demais!
















segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

ALMOÇO SLOW FOOD KM ZERO

 
por Fulvio Iermano






Companhia boa! Comida boa! Energia boa fluindo!!

Quando se encontram pessoas que têm em comum um olhar mais sensível sobre a vida parece que a interação com os outros seres e com o planeta terra acontece com maior sintonia e magia, e nos sentimos menos isolados e mais confiantes em seguir nossas escolhas e semear boas ideias.

O Convivium é isso... compartilhar algumas horas conversando, trocando idéias e receitas, conhecendo produtos e produtores. É uma ocasião para rir e brincar com as crianças, para ver quem apanha mais mangas no fundo da Estação, aquelas “comuns” cheias de fiapos, boas para chupar e ficar com a boca toda amarela.
E por falar em mangas, a família da Bety foi a grande protagonista em apanhar e saborear as mangas diretamente do pé! A Jaqueline também trouxe uma sacola cheia de mangas do sítio dos pais que ela disse não conhecer nem o nome científico e nem o popular, mas que todos chamam de “mangas família” porque uma manga é suficiente para todos os seis irmãos e os pais, de tão gigante que é! Na verdade, a Jac forneceu  manga, limão, laranja e caju para os sucos, juntamente com a Ana que trouxe amoras do sítio de um amigo.

As 11 horas estávamos na Estação, eu, a Evi, o Angelo, a Tatiana e o Fabio para arrumar as mesas, o banner, a faixa, as bandeiras do Terra Madre Day, as toalhas, os sucos, as frutas, deixar tudo pronto para receber os amigos. Foi então que a Tatiana perguntou: quantas pessoas vão vir? Boa pergunta! Mas difícil saber precisamente e podemos ter sempre surpresas. E dessa vez tivemos a grande alegria de receber muitas pessoas, quarenta, incluindo as crianças.



Todos trouxeram suas “especialidades”, simples ou elaboradas, mas todas deliciosas. Eu e a Evi preparamos dois suflês, um de chuchu e outro de vagem, e fizemos também as bolachas de Jatobá, quase quilômetro zero. O pessoal foi chegando e a plataforma da Estação foi se animando com cheiros e cores: a Mônica trouxe um molho de pimenta que segundo ela era especial, pois feito com muito carinho! A dona Jô, mãe da Mônica, fez as “rosquinhas juninas” que, apesar de estarmos em dezembro, adoçou o paladar da turma. A Isabel, nossa contadora de histórias da África, logo que chegou foi fritar os saborosos acarajés, uma tradição herdada de sua avó. Ela conta que pediu autorização aos orixás para compartilhar essa especialidade da gastronomia afro-brasileira registrada, em 2005, nos Livros de Saberes como patrimônio imaterial. Foi servido quentinho como entrada e é claro que não sobrou nadinha!

O Rafael e a Lorena chegaram trazendo um pouco da sabedoria mineira da avó de Lorena, torresmo e pão de queijo, ainda quentinho, tudo preparado com produtos do sítio da família. A Cida e a Jordana prepararam um maravilhoso “Bolo Reis”. O Didi, a Luciana e a Selma nos deliciaram com tortas de legumes. A Alessandra, Adilson e Ana Terra trouxeram as verduras fresquinhas e o Leandro chegou com dois abacaxis dizendo ser da roça...não sei não!!



A Ana montou uma colorida salada tropical com todos os ingredientes produzidos na horta orgânica do Batea, assim como o Luciano que fez uma grande salada com os produtos da feirinha dos pequenos produtores de Batatais. O Wesley criou uma bela “caponata” de berinjela e a Natália trouxe um curau de abóbora delicioso feito pela mãe que, aliás, foi o prato mais votado recebendo o primeiro prêmio! Ah, os prêmios, é verdade, como esquecer!
O Convivium quis homenagear os três pratos mais votados: a Natália ganhou o queijo artesanal mineiro de leite cru da Serra do Salitre, do nosso João da rede Terra Madre. O bolo da Cida e o acarajé da Isabel dividiram o segundo lugar e receberam a geléia de umbu da Coopercuc (Uauá -BA), fortaleza Slow Food. A salada tropical da Ana ganhou um delicioso licor artesanal de pequi. E é claro que os “prêmios” foram compartilhados e degustados por todos nós!!!
 
 

Nem todas as receitas respeitaram o princípio km zero, mas com certeza este encontro proporcionou uma reflexão sobre a nossa alimentação no dia a dia, como são produzidos os alimentos e nossa relação com os produtores locais. Conversamos sobre os princípios “bom, limpo e justo” e percebemos a alegria em nos reunir para compartilhar um momento especial trocando ideias e receitas. Nos despedimos com a promessa de nos encontrar mais vezes para celebrarmos a comida boa, limpa e justa!

Obrigado a tod@s pela participação








apoio Associação Estação Cultural de Batatais