...expressão local da filosofia Slow Food

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Entrevista com Clarissa, pequena produtora agroflorestal (SAFs) de Jardinópolis - SP

Como você se chama, quantos anos você tem e de onde você é?
Meu Nome é Clarissa Chufalo Pereira Lima, e por causa do meu sobrenome ganhei esse apelido de Faculdade da ESALQ-USP de Xuva, tenho 36 anos e sou nascida e criada em Ribeirão Preto –SP.





Há quantos anos você é produtora rural ?
Eu fui produtora rural logo que me formei (de 1997 a 2000) em uma fazenda no Sul do Estado de São Paulo em Itapeva. Eu plantava SAFs (Sistemas Agroflorestais) com frutas temperadas tipo pêssego e criava abelhas - apicultura, chegamos a 100 colméias de abelha. De 2000 a 2008 trabalhei em consultorias ambientais, com certificação de produtos agrícolas para exportação e no INCRA de São Paulo, em um Assentamento Modelo, o primeiro do estado tipo PDS (Projeto de Desenvolvimento Sustentavel) onde desenvolvemos vários trabalhos de incentivo e implantação de SAFs (Sistemas Agroflorestais) em parceria com a Embrapa Meio Ambiente. Após 2008 iniciei um trabalho de implantação de SAFs (Sistemas Agroflorestais) na propriedade da família (Fazenda Divindade) até os dias de hoje. Que tipo de relação você tem com a terra? Onde você adquiriu seus conhecimentos?
Desde a faculdade de Engenharia Agronômica sempre gostei de colocar a mão na massa e foi em 1995 logo quando entrei na faculdade que tive meu primeiro contato com a pessoa que tenho para mim como mestre, embora ele mesmo se intitule aprendiz da Natureza - Ernest Gösth. Depois desse contato ajudei a fundar o primeiro grupo de Estudo da ESALQ-USP de SAFs (Sistemas Agroflorestais) e daí nunca mais parei de acompanhá-lo, em congressos, em cursos, em estagio na sua Fazenda no Sul da Bahia. Participo também de um movimento que se tranformou em uma ONG chamado Mutirão Agroflorestal que possui integrantes espalhados pelo Brasil inteiro com trabalhos que vem fortalecer os SAFs (Sistemas Agroflorestais) e organiza cursos junto ao Ernest para formar mais pessoas nesse assunto.


Por que escolheu o manejo agroflorestal?
Eu brinco que só a Agrofloresta pode salvar o planeta dessa destruição!! Mas é uma brincadeira bem verdadeira, pois imagina você poder pegar uma área degradada e regenerar, reflorestar, mas respeitando todos os estratos naturais de uma floresta, na verdade é você imitar a floresta natural e produzir alimentos em vários degraus e em vários tempos diferentes. Uma planta cria a outra, pois na natureza não há competição e sim cooperação e simbiose entre todos os seres. Você pode consorciar muitos alimentos numa mesma área, a colheita é muito mais abundante em diversidade do que a monocultura. Além disso, o controle de pragas é natural, pois existe maior biodiversidade de insetos, microorganismos que representam os predadores das pragas que controlam os ataques. No SAFs a gente tenta estabelecer uma harmonia dinâmica. Repare se numa floresta natural existe algum ataque de alguma praga que destroe tudo! Na verdade as chamadas "pragas" são nossos professores pois elas nos mostram aonde está o desequilíbrio. Os Sistemas Agroflorestais é um universo de conhecimento aonde estamos sempre aprendendo com a propria natureza, é instigante e desafiador.





Há quantos anos você pratica o sistema agroflorestal?
Desde de 1996 quando criamos o Grupo de Estudo de SAFs (Sistemas Agroflorestais) na ESALQ (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz) em Piracicaba – SP.

O que você produz?
Horta Orgânica: verduras (alface, rucula, espinafre, couve, almeirão, escarola), legumes (cenoura, beterraba, berinjela, pimentão, jiló, maxixe, couve-flor, broccolis, feijão, abobrinha italiana, salsinha, cebolinha) mandioca, milho, pimentas (dedo de moça, malagueta, coração de galinha, bode, pimenta mexicana amarela, pimenta de cheiro), banana prata, banana maçã, banana marmelo, manga espada, abacate e madeira de lei exótica de teca.
Todos esses produtos são plantados de forma consorciada respeitando seus estratos. Num canteiro eu chego a ter mais de 10 produtos plantados juntos.





O que você comercializa?
Hoje eu comercializo todos os produtos descritos acima menos a madeira de teca que ainda não está no ponto de corte, direto aos consumidores.

Você participa de algum grupo, associção, cooperativa, rede?
Atualmente eu sou uma ING (risadas!) Individuo Não Governamental. Infelizmente na minha região temos pouquissimas opções de grupos de produtores, por ser uma região super canavieira, eu me sinto quase uma ilha no meio do mar de canavial. Quem pratica o trabalho parecido com o meu é o meu parceiro Engenheiro Agrônomo também, Rodrigo Junqueira, que é produtor rural na região de São Joaquim da Barra - SP (Fazenda São Luiz) há uns 50 km da minha fazenda, aonde tem ocorrido os cursos de agrofloresta com Ernest.

Você acha importante o trabalho coletivo, cooperativo, solidário? Por quê?
Esse tipo de trabalho é fundamental para o fortalecimento dos ideais de agrofloresta e de agricultura orgânica, os produtores deveriam estar mais unidos.

Xuva, muito obrigado pela entravista. Desejamos sucesso pela sua luta agroflorestal!