...expressão local da filosofia Slow Food

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

"Vegetariano em dias úteis"

por Paula Populin*

Versão em português da breve palestra de Graham Hill, fundador do site www.treehugger.com, no qual ele aborda o dilema entre ser vegetariano ou carnívoro.
Legendas em português disponíveis no link: http://www.ted.com/talks/lang/eng/grahamhillweekdayvegetarian.htm .
Há cerca de um ano, eu me perguntei: "Sabendo o que eu sei, por que eu ainda não me tornei vegetariano?". Afinal, eu sou um cara sustentável. Sou filho de pais hippies que moravam em uma cabana de madeira. Eu fundei o site Treehugger (abraçador de árvores), que prega a vida sustentável. Eu me importo com essas coisas. Sei que comer um mero hamburguer por dia pode aumentar o risco de morte em 30%. Isso sem falar na crueldade. É sabido que 10 bilhões de animais destinados ao consumo humano, são criados em fazenda industriais que nós, hipocritamente, não consideraríamos nem para nossos cães, gatos ou outros animais de estimação. Na esfera ambiental, a carne causa mais emissões de carbono que todos os meios de transportes juntos: carros, trens, aviões, ônibus, barcos, todos eles! E a produção de carne bovina utiliza 100 vezes mais água do que a maioria dos vegetais.

Também sei que não estou sozinho nisso. Nossa sociedade consome atualmente quase duas vezes mais carne do que na década de 50. Observamos então que o que antes era o acompanhamento da refeição, a tal "mistura", tão especial e aguardada, se tornou o prato principal. Devemos convir que, qualquer um desses argumentos por si só já seria suficiente para eu ter me tornado um vegetariano. Mas não. Antes que pudesse perceber, lá estava eu de novo, me fartando com um belo e generoso bife.
Então por que eu adiava a minha decisão? Nesse momento percebi que a solução para o meu dilema se apresentava de forma binária: ou você é carnívoro ou é vegetariano, sem meio termo. Acho que eu não estava preparado pra isso. Imagine seu último hamburguer...Não! Havia uma claro conflito entre meu bom senso e minhas papilas gustativas, fazendo com que eu sempre deixasse a tal decisão pra depois. Obviamente, o "depois" nunca chegava...

Como as duas primeiras soluções não me agradavam, imaginei então que poderia haver uma terceira. E havia! Coloquei-a em prática há aproximadamente um ano e tem sido genial. Chama-se "vegetariano em dias úteis" (weekday veg). Acho que o nome diz tudo. Não se come nada que tenha focinho de segunda a sexta-feira. Aos finais de semana, a escolha é sua. Simples assim. Mas se você quiser levar a experiência a um nível ainda mais avançado, lembre-se: os maiores vilões em termos de danos ambientais e à saúde são carnes processadas/industrializadas. Então por que não trocar essa fonte de proteína animal, por um belo peixe criado em condições sustentáveis? É uma proposta fácil de implementar e simples de executar. Tudo bem se não seguirmos o programa totalmente a risca e tivermos um lapso uma vez ou outra. Afinal, deixar de comer carne cinco dias por semana, já é cortar seu consumo em 70%!

Por isso, façam o seguinte questionamento: por sua saúde, pelo seu bolso, pelo meio ambiente, pelos animais, por que não tentar e dar uma chance à ideia de se tornar um "vegetariano em dias úteis"? Afinal de contas, se TODOS nós consumirmos metade da carne que comemos, significaria que metade do mundo seria vegetariano.


Espero que esse breve testemunho possa inspirar alguns. Comigo fumcionou!
Lembremos que SER ÉTICO é reconhecer que cada uma de nossas ações têm infinitos desdobramentos no mundo que nos cerca. Assim, seria muita ingenuidade/egoismo acreditar que o meu estilo de vida não causaria impacto na vida do todo.


* Paula Populin è professora e gastrônoma pela Universidade Anhembi-Morumbi e Institut Paul Bocuse (Lyon - França).

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